domingo, 21 de fevereiro de 2010

João e Eu - Um dia de mal do século.


Esticando o pescoço para além da visão panorâmica da tela do computador, pode-se ver uma brecha que sinaliza para um dia ensolarado. O calor que teima em se fazer perceber na agonia corpórea, nas gotas de suor que sorrateiramente escorrem pelo rosto e na incômoda oleosidade que se acumula sobre o nariz, também contribui para que se tenha certeza de que nesse momento há muitas pessoas na praia, aproveitando um daqueles dias de veraneio. Possivelmente elas estão sorvendo a bebida de sua preferência, trajando roupas coloridas, óculos escuros - os desta estação ou da passada - e podem até mesmo estar se divertindo ao som de samba, pagode, forró ou rebolation tion.

Dias como esse (exceto pela dose significativa de álcool) não se parecem em nada com aqueles em que imagino os poetas malditos escrevendo visceralmente sobre suas angústias em poemas agonizantes. Mas afinal, quem nunca teve "um dia de mal do século"?

Não é o caso. Nem eu, nem João - nem qualquer outra personalidade múltipla de que tenha notícia - estamos vivendo um desses dias de mal do século. Mas é curioso relembrar como há dias em que tudo parece despedaçado, desfolhado, insípido. Dias em que toda felicidade é vazia e tudo incomoda. Há quem diga que mal do século tem cara de envelhecimento mal resolvido. Em outras palavras, há dias em que somos tomados por uma desilusão inexplicável.

Às vezes penso que os dias assim, de mal do século, servem para que possamos reencontrar a graça e o gosto pela vida, para que revivamos o sabor de gostar de viver. Os nossos dias byronianos são apenas parte da senoide de nossas vidas, porque, afinal de contas, não somos lineares. Nossa complexidade nos impede de uma felicidade plena enterna nesse plano. Mas, de certa forma, momentos de mal de século também são para serem vividos e aproveitados. Aproveitamos para ver o outro lado da moeda, o lado B do disco, experimentar a vida sem a euforia e a empolgaçao de uma criança que vê um bolo de chocolate. Dessa forma, um dia, uma semana, um mês ou um certo tempo depois, poderemos voltar a ser a criança e a vida, o bolo de chocolate.

Só não podemos nos deixar levar por um fatalismo lírico que nos paralize, uma vez que isso nos levaria a uma incompletude ainda maior. Devemos viver todas as possibilidades, experimentar nossas proprias emoções, mas não ser refém das mesmas. Falando assim, parece que viver é complicado. De fato é. Talvez por isso muitos poetas geniais tenham invocado a morte em seus poemas. Contudo, a graça da vida é vivê-la. Portanto, viva a vida. Um viva à vida. Tenha você quantos "eus" tiver....

2 comentários:

  1. JV , você é um prodígio da natureza. Tá muito "foda" aqui.
    GOGOGO

    By: Ricardo Victor

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  2. - dose significativa de álcool.
    Vivencie o spleen.

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