segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Postando mais uma vez aqui!! Bom, essa postagem é um pouco diferente das anteriores, estou abrindo espaço para publicar uma crônica que "Eu escreveu". Essa crônica é narrada por João, mas um outro João (que loucura!). O João que está agora em questão já passou dos 30, tinha um emprego e uma vida monótona e uma visão conservadora. Se gostarem, comentem. =)




O DIA DA ORGIA




Há um certo tempo eu dizia: 'se um dia me chamarem pra orgia, olha só que maravilha, um convite pra recusar!'. Nunca achei que fosse certo, direito ou natural. Sempre achei que tudo nessa vida, incluindo sexo, amor, diversão não devia ser transformado em algo assim... tão banal. De fato, para mim as pessoas que - como se dizia antigamente - se davam ao desfrute só podiam não ser normais; fracas, talvez, por sucumbirem assim aos desejos carnais, em detrimento de toda moral ou pudor. Moral e pudor eram coisas que eu certamente valorizava. Para mim, as coisas no universo tinham uma ordem, sabe? Deveriam permancer estaticamente dentro dos padrões, qualquer forma de subversão, contravenção ou intervenção desordeira era desregular a perfeição da normalidade. Normal e perfeito, para mim, eram sinônimos.
Enfim, um dia me chamaram pra orgia. Não importa como nem onde. O importante é o convite e os efeitos do mesmo. Também não interessa o porquê de eu ter aceito o convite. O fato é que aceitei. Surpreendi-me em um local no qual eu jamais imaginaria que pudessem acontecer tais coisas. Nunca imaginei que ali fosse possível quebrar toda forma de paradigma que eu tinha até então.
Ao adentrar no local da orgia, meu zelo pelo pudor me impunha um certo constrangimento e um desconforto sistêmico. Meu interior parecia revolver-se em relutância a aceitar aquela ideia. Assim dei os primeiros passos cabisbaixo. Meu tímido, porém curioso, olhar voltava-se para o chão e foi de lá que comecei a desvendar toda a magia daqueles acontecimentos. No chão era possivel ver muitas sombras. Uma, duas, três, muitas! Muitas sombras de diferentes formas que moviam-se rapidamente em movimentos que aludiam vagamente a certas coisas que ja conhecia. Essas sombras passavam então a misturar-se, confundir-se. Vi muitas sombras contorcerem-se e sobreporem-se. Cada sombra parecia ali tomar um quê de liberdade. Libertavam-se para assumir suas vontades e confundiam-se em seus desejos. As sombras apoderavam-se de muitas outras que lá havia. Móveis e paredes misturaram-se às sombras que já dançavam, uma dança frenética, ritmada, cadenciada. As sombras eram inquietas.
Não sei ao certo quanto tempo passei ali observando aquelas sombras de mãos ávidas e atrevidas. Contudo, só despertei da absorção de meus pensamentos quando vi uma gota de mue suor escorrer pelo meu tenso corpo e manchar as sombras que bailavam ali no chão. Minha configuração também foi mudando, aos poucos me vi despido, não só das roupas com aque ali chegara, mas também de toda forma de pudor.
Logo eu também me tornara mais uma daquelas sombras. Das sombras também saiu um eu diferente, mais solto, desinibido, poderia dizer até mesmo um eu mais atrevido. O chão agora era testemunha, marca, do que o meu eu sombra estava fazendo, da libertação da dimensão estática do mundo e da abertura à complexa noção da dinâmica. As sombras me fizeram perceber que o mundo é dinâmico. A luz dos cômodos misturada à luz do Sol criava uma oscilação constante que conduzia as sombras a uma eterna e contínua mudança de posição, embora seja bem verdade que elas mesmas, ainda que dançassem na escuridão, já o fariam.
O importante é que a orgia daquele dia não foi uma orgia de corpos desnudos. A verdadeira orgia aconteceu na minha mente. Pude permitir que cada ideia presente em meus pensamentos se libertasse. As ideias não mais estavam presas a noções tacanhas de um dogmatismo infundado. Essa orgia intelectual fez com que minha mente deixasse de ser tão metódica. Permitiu-se que minhas ideias se aproveitassem umas das outras, abusassem-se despudoradamente, podendo desvencilhar-se quando quisessem, mas o todo que elas criavam ao misturar-se e interagir é que fazia daquela orgia uma ciração. Pude aprender a libertar minha mente dos cadeados dos "preceitos imutáveis" e fazer de todo dia, em minha mente, um dia de orgia.

3 comentários:

  1. quando o joão tiver os 30 de verdade. eu e marcus vamos procurá-lo tá ? talvez ele aceite até meu convite.. mas pra entrar em coma ;D tati.

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  2. fernado pessoa que se cuide,com tantos joaos assim ele nao terá chance.

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