quarta-feira, 30 de junho de 2010

Poesia positiva

A caneta na mão não é assim tão útil.


Se o verso em si já não é naturalista,


Resta-nos a letra imperfeita da rima fútil.


O poema é mesmo utilitarista.





Se o verso é frio, empacotado, real


E a rima é seca, imprópria e exaustiva,


A poesia só pode parecer desleal


E arte do poeta, demasiado improdutiva





E se o poeta é escultor do poema preciso,


Seu trabalho só pode ser mesmo exibicionista.


Se todo poeta é um tanto Narciso,


A estrofe fica assim mesmo: fetichista.





A métrica deve ser, portanto, um ponto certo.


O verso é heroico, mas a forma é cansativa


Porque, de toda ideia, a letra sai de perto


E a poesia fica assim um tanto abusiva





E se o homem conquista o relativo


Seduzido pela melodia idealista


Sua arte faz-se então impertativo


Sente-se um joguete. ritmista.





E se cansa-se do esforço de ser orgânico,


Definha, então, numa missão abortiva


Entrega sua alma ao mundo mecânico


E faz poesia assim: retrospectiva





O poeta não quer mesmo ser simpático


Nem mesmo quer verso puro ou perfeição contemplativa.


Mas o verso teima em ser, por si, enfático


E todo esforço sucumbe em poesia positiva





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