segunda-feira, 26 de julho de 2010

Te amo.

somebody tell me what she said.



É. Naquele instante ele pareceu ter esquecido o significado daquelas palavras. Todos os gritos e sussuros que ela proferia pareciam vazios de significado. Te amo. Essas palavras inistiam em ecoar pelo cômodo apertado, teimavam em fazer daquele instante de suplício uma espécie de vazio sentimental. Te amo. Ela não era mesmo muito atenciosa às regras. Tampouco poderia sê-lo, a situação não permitia. Aqueles eram os únicos sons que lhe era possível emitir. E, ainda que expressivamente agoniados, aqueles gritos, para ele, permaneciam indecifráveis. Te amo. De fato, a voz daquela garota não era mais capaz de conceder pista alguma sobre o misterioso singificado daquela sentença, uma sentença bradada entre urros, com o ardor e o peso de uma sentença de morte. E se a boca já lhe era um enigma indesvendável, ele partira então para entender o corpo daquela moça. A forma com a qual ele se contorcia parecia reiterar a força daquela frase misteriosa. A sua pele suada e tensionada pela dinâmica do momento pareciam também gritar: Te amo. O corpo, então, pareceu igualmente indecifrável. Figurava apenas como reflexo daquela incessante declaração. Naquele momento ele foi tomado por uma estranha vontade de integrar-se ao ardor daquela oração. Ele quis, dessa forma, pertencer, estar mais que junto, estar dentro. Imaginou que talvez ali, do lado de dentro, aquelas palavras, se viradas do avesso, poderiam fazer mais sentido. Mas o avesso do contraditório pareceu tão contrário a tudo que é lógico quanto antes. Te amo. Nem por dentro, nem por fora. Nada figurava como possível sentido que preenchesse aquela expressão. Examinou então a força com que ela repuxava-lhe a pele e torcia os lençóis. Fez uma verdadeira assepsia no desenho que agora faziam naquele lugar, como se algo ali construísse uma espécie de simbolismo que traduzisse ou sugerisse o que aquela moça alterada queria dizer. Te amo. Não, ele não entendeu, deduziu então que talvez essa não fosse o tipo de coisa claramente inteligível. Olhou nos daquela senhora e ali descobriu a pista que tanto procurava. Mas ainda assim esse significado pareceu-lhe um tanto nebuloso. Mas sentiu-se constrangido, coagido, impulsionado a responder. E no ímpeto de responder, quis repetir. Foi o que fez. Repetiu. Te amo.